"Renascendo das Cinzas: Humilhada, Mas Jamais Perdida"
**Em meu coração, hoje reside uma dualidade: a gratidão pelas inúmeras vitórias que a vida me concede e a sombra persistente de dores passadas.**
Antes de celebrar os milagres, sinto a urgência de dar voz ao que ainda pulsa em mim. Falo das cicatrizes do tempo — marcas profundas que, mesmo com toda minha busca por cura através do Ho'oponopono, continuam a se manifestar. São lembranças dolorosas de humilhações, maus-tratos e agressões que, adormecidas em certos dias, despertam em outros, trazendo sofrimentos aos ecos dos velhos.
Desde a infância, a violência paterna marcou minha história. Fios e minhas mangueiras eram usados como instrumentos de proteção, ativados sempre que a mãe se queixava. A frieza nos olhos dele e a frase cortante — **“Ah, respondeu pra sua mãe?”** — precederam a dor. Meus gritos ainda reverberam: **“Pára, pai!”**
Embora a fome não tenha sido uma constante até os meus dezasseis anos, por ser uma criança mais forte, algumas necessidades básicas eram direcionadas apenas ao meu irmão, mais magro. Minha mãe justificou:
**“Esse é para o seu irmão, ele está muito magro.”**
Anos depois, após minha formatura e retorno para casa, senti a exclusão da própria mãe. Sua recepção fria — **“Nossa, nem voltei de mudança e você já veio?”** — anunciada um lar dividido. Meu pai, separado, morava com outra mulher, mas quis alugar uma casa para mãe voltar, já que também queria morar em casa. Só que impôs uma condição cruel:
**"Agora que sua filha se formou, ela vai voltar. Então escolha: ou ela, ou eu."**
E ele foi embora.
Em casa, as palavras da minha mãe delineavam a escassez:
**"Débora, um bife é seu. Os outros dois são do seu irmão – ele trabalha."**
E antes disso, ouvi dela:
**"Você não poderia esperar seu pai e seu irmão comerem primeiro? Eles trabalham, têm horários!"**
Foi só depois dos 16 que a experiência da fome se tornou real.
Na vida adulta, a crueldade ganhou novos rostos. Uma ex-namorada me humilhou com desprezo:
**"Vamos lá, passa fome. Você não tá com fome?"**
Jogava comida no chão, negava até a compra de um pão. Fui expulsar da casa construída pelo meu irmão para minha mãe — **não havia espaço para mim.** Era como um fardo. Saí às pressas, sem banho, sem alimento. Indo para a faculdade, só pensei:
**“Onde você vai dormir?”**
Encontrei abrigo na casa de uma senhora bondosa, que me ofereceu café e acolhimento. Mas, sem querer pesar, decidi ir até minha mãe pedir um pouco de pó de café. Fui com esperança. A resposta veio fria:
**“Não tenho nem pra mim, o café tá acabando!”**
Não doeu pelo café, mas pelo não-acolhimento — mais uma vez.
No México, cuidando da casa da minha sobrinha para receber seus convidados, pedi um café fresco. A resposta me feriu:
**"Tia, se a senhora quer gastar café, desperdice o seu dinheiro. O meu, não!"**
E ainda veio o lamento pelo preço:
**“Muito caro.”**
Na casa do meu irmão, preparei um café mais tarde e ouvi:
**"O café tá caro. Já fiz de manhã e às 16h."**
Foi aí que passei a comprar meu próprio café e açúcar, para não incomodar ninguém com minhas necessidades.
Agora, o ciclo se repete. Até maio, convivo com uma ex-companheira que me trouxe humilhações, traições, palavras cruéis e até agressões. Afastada pelo INSS, ouvi ela:
**"Você não faz nada. Só viva nesse computador. Só quero ver quando quebrar, o que você fará!"**
Meu último salário foi em fevereiro. O INSS cortou meu benefício. Ainda tenho meu trabalho como Correspondente Bancário, mas mesmo com as dificuldades nas vendas, usei tudo o que consegui para cuidar da casa. Comprei cestas básicas — em uma delas, paguei uma parte e fiquei devendo a outra.
Ainda assim, escutei:
**"Comprou porque quis. Ninguém pediu. Você vive fazendo dívida. Vive pedindo dinheiro e não paga. Tá cheia de dívida."**
Uma compra recente de café feita por ela trouxe mais um peso:
**"Você precisa arrumar o que fazer. O café tá caro. Não vou sustentar essa casa sozinha."**
A internet, que está em meu nome, foi paga com a ajuda de um amigo. A luz, ainda está em aberto.
Anteontem, fui recebido com xingamentos:
**"Você é porca. Até uma prostituta é mais limpa e ainda ganha dinheiro."**
Me incentivou, ironicamente, a tirar fotos novas e vender na internet:
**“Vai ganhar dinheiro na esquina.”**
Ontem, por não ter fechado a janela e colocado a cachorra pra dentro, fui chamada de “vagabunda”, seguida pela ironia ácida:
**“E aí, o café estava bom?”**
Ainda há pressão externa vinda de sua mãe:
**"Tem certeza que vai namorar uma velha? Velho só dá trabalho."**
Mas, mesmo em meio a tudo isso, houve um momento que me marcou profundamente. Aos 35 anos, minha mãe me acordou na madrugada, chorando. Pediu perdão. Sua voz tremia com anos de mágoa e arrependimento.
Do fundo da alma, responda:
**"Mãe, eu te amo. Não tenho nada a perdoar."**
Naquele instante, o perdão foi liberado. Um instante de cura que ilumina as sombras do passado.
E hoje eu entendo perfeitamente por que criei meu blog, *As Fábulas da Cafeteria Centelha Divina*. Ele é uma forma do Universo me oferecer acolhimento, amor e respeito. Aqui, posso acolher os outros também. E o que mais tem na Cafeteria Centelha Divina? Café, claro!
Peço desculpas pelo desabafo. Não quis me vitimizar. Tenho buscado força na espiritualidade. Meus blogs são meu refúgio, minha expressão. Participei da ação solidária de Páscoa, e mesmo que a entrega dos doces ainda esteja sendo um desafio, fiz com amor. Uma amiga prometeu ajuda, mas o carro cortez, impossibilitando de levar as doações.
Mas minha fé permanece firme. Quando me dizem **“Ore, vá à igreja”**, eu respondo com meu silêncio diante da natureza.
**Tenho feito da mata no meu templo.**
Lá, Deus me encontra sem barreiras, sem julgamentos, sem portas fechadas.
Agora, aguarde uma nova perícia médica. Se a resposta for negativa, procurei outro caminho. Mas o que mais desejo é simples e profundo:
**Que eu não seja mais humilhado.**
Nem por porta, nem por amar, nem por existir.
**Reflexão final:**
Apesar de todas os desertos e silêncio, me orgulho de dizer: **minha essência permanece intacta.**
Continuo acreditando no amor, na generosidade e na luz.
Carrego marcas, sim. Mas a força do meu espírito é maior.
A verdadeira vitória é não deixar que eu me transforme em alguém que eu não sou.
Sigo sendo eu — inteira, mesmo aos pedaços.
Debbye Reys
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